NATUREZA, CIÊNCIA, TÉCNICA E TERRITÓRIO
A ciência e o capital desenvolvem
meios técnicos para se sobreporem ao tempo da natureza na busca do maior lucro
possível, criando o ritmo da reprodução do capital.
Cultivos de plantas transgênicas,
criação de animais em sistema de confinamento, incremento de ração para animais
com anabolizantes, são alguns exemplos.
Para Milton Santos, no
capitalismo, a organização do espaço se dá na maneira como se aparelha o território
para impor o tempo do lucro (da reprodução do capital) sobre o ritmo da
natureza.
PROGRESSO?
A noção de progresso norteou, nos
últimos 200 anos, a ação transformadora do homem e justificou práticas
imperialistas, industrialização a qualquer preço, ideias de superioridade do
homem branco e da cultura ocidental, e, por consequência, a dominação sobre
outros povos.
Considera a natureza como fonte
inesgotável de recursos, a qual pode ser transformada e utilizada pelo homem na
medida em que este desenvolve conhecimentos e técnicas.
A sociedade industrial altera os
ambientes naturais e constrói/reconstrói paisagens a partir de uma visão
utilitarista.
Como afirma Milton Santos, a
natureza passa a ser um grande conjunto de objetos dos quais o homem escolhe alguns
que aprende a utilizar.
Essa ideia vê a natureza de forma
fragmentada e considera os objetos naturais isoladamente.
A ideia de progresso associada à
expansão industrial prevaleceu como critério para se definir desenvolvimento.
Assim, país industrializado passou a ser sinônimo de desenvolvido, ocultando o
uso indiscriminado e predatório da natureza.
Na escala local e regional, um
exemplo, é o Mar de Aral, na Ásia Central que teve seu volume de água reduzido,
pois as águas dos rios que o abastecem foram intensamente utilizadas na
irrigação.
A expansão da atividade
industrial no mundo foi acompanhada de inúmeros acidentes de grande impacto
social e ambiental. Esses são grandes problemas, pois se referem a uma dinâmica
global e seus efeitos são sentidos em diversas escalas geográficas.
Atualmente, são 25 as áreas do
mundo que apresentam alto grau de ameaça de destruição, e todas, em diversos
tipos de ambientes, têm grande biodiversidade. Essas áreas de grande
biodiversidade e ameaçadas são chamadas de hotspots.
As áreas de alto risco
correspondem a 1,4% da superfície terrestre, porém representam
o habitat de mais de 60% das plantas e animais conhecidos no planeta.
A atual organização do espaço
mundial pode ser entendida como uma distribuição desigual de tecnologia e de
riquezas entre os países.
Com a industrialização ocorrida
nos últimos 200 anos, a maior parte dos ambientes naturais dos países do Norte
foi alterada e seus recursos intensamente explorados. Por outro lado, os países
do Sul contêm em seus territórios grandes recursos, entre os quais a
biodiversidade presente nos ambientes tropicais que constituem reservas de
riquezas muito cobiçadas pelas indústrias extrativas vegetais, farmacêuticas,
entre outras.
OUTRA IDEIA DE NATUREZA: TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADE
Atualmente, o espaço geográfico é
marcado pela diversidade de modos de vida que expressam diversas formas de
conceber e se relacionar com a natureza.
Para a maior parte das culturas
indígenas que habitam a Amazônia a posse da terra é coletiva e o uso da
natureza não é predatório, pois a concebem como parte da sua sociedade.
Dessa forma, todos os seus
elementos estão integrados a um universo simbólico em que predomina uma
concepção unificada.
Na vida real, atribuímos muitos
sentidos e sentimentos aos lugares onde vivemos. Isso ocorre com nosso quarto,
casa, rua e bairro.
O conceito de territorialidade se
define pelo vínculo de afetividade, pelo sentimento de identidade, percebido
por quem a vivencia, organiza e experimenta.
As inúmeras comunidades indígenas
que viveram e vivem no Brasil preservam o meio ao estabelecerem vínculos com
tudo que os cerca. Os elementos presentes no meio constituem patrimônio da sua
identidade, produzindo e reproduzindo sua cultura. Essa territorialidade
expressa pelas comunidades indígenas é difícil de ser compreendida.
Isso significa dizer que a mudança de casa, de
apartamento, não é apenas uma simples transferência de um local para outro,
pois não nos damos conta de todas as mudanças de relações, de vínculos, de
lembranças, provocadas por essa alteração.
Na
sociedade urbana capitalista, mantemos uma relação alienada com os inúmeros
objetos, os locais e as pessoas.
O
conceito de territorialidade representa identidade, reconhecimento,
pertencimento ao lugar, a interação mediada por vínculos objetivos e subjetivos
com o território, entre o homem, a sociedade e o meio.
No
espaço urbano, um exemplo são os grafiteiros que marcam sua territorialidade
com seus próprios códigos de identidade: linguagens, vestimentas, músicas
e seus próprios instrumentos de arte.
Se ao
longo do processo de expansão das fronteiras do capital, a tentativa de
eliminar a existência de diferentes modos de vida alienou sujeitos e as
relações que eles estabelecem entre os próprios seres humanos e com seus
lugares, como podemos produzir territorialidades?
Por que
comunidades tradicionais, como os castanheiros, quilombolas, quebradeiras de
coco, lutam para manter sua territorialidade?
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