REFLEXÕES SOBRE A DURAÇÃO DAS JAZIDAS DE PETRÓLEO EM FUNÇÃO DO
CONSUMO E DO QUE PODE SER FEITO PARA REDUZIR O
CONSUMO DE PETRÓLEO.
Fatores
que influem no custo da extração de petróleo
O
petróleo é um produto natural encontrado preenchendo vazios (poros) em alguns
tipos de rocha da terra (arenitos e carbonatos), usualmente entre 300 metros
até cerca de dez mil metros de profundidade. Pode ser encontrado em
profundidades menores e maiores que essas. Trata-se de um bem finito presente
em rochas distribuídas aleatoriamente, mas uma vez encontradas sua distribuição
e extensão pode ser prevista. O custo da extração de petróleo depende de um
número grande de fatores como os relacionados a seguir:
(1) da porosidade da rocha reservatório
em que se encontra;
(2) da dimensão da jazida (=
reservatório) que o contém e define o volume de petróleo disponível;
(3) da profundidade em que a jazida se
encontra;
(4) da dureza das rochas que são
atravessadas (durante a perfuração) até a jazida;
(5) da localização da jazida (acesso),
se no continente, se no oceano (plataforma continental); (5a) no oceano os custos da perfuração
dependem da altura da lâmina d’água (sobre o fundo do oceano), dos ventos e das
correntes oceânicas;
(6) da presença e espessura de rochas
solúveis, como o sal-gema, que aumentam as dificuldades de perfuração com a
profundidade em que se encontra, inclusive por causa do grau geotérmico;
(7) da quantidade da reserva
recuperável presente na jazida (ou reservatório) ou campo de petróleo (o
petróleo mais facilmente recuperável flui facilmente e está livre da tensão
superficial que mantém até cerca de 30% do petróleo aderido aos grãos de areia
que formam o reservatório); o petróleo retido por tensão superficial nos grãos
da rocha reservatório pode ser recuperado posteriormente por meio de injeção de
água, de gás ou de solventes.
A
combinação de mais de um desses fatores aumenta a complexidade da perfuração,
da extração e do transporte do petróleo até as refinarias e, portanto, aumenta
o investimento e o custo (e o preço) do petróleo posto na refinaria.
Embora
as reservas de petróleo sejam finitas, sua duração dependerá do preço que a
sociedade está disposta a pagar por ele. Nos últimos 40 anos o preço do barril
de petróleo (barril = 159 litros) comercializado internacionalmente variou de
cerca de US$3,00 a mais de US$140,00 e hoje está próximo de US$100,00 (06 de
setembro de 2012 – US$ 95,36). Como o custo médio de sua extração vem
crescendo, a tendência é de que seu preço se eleve gradualmente no futuro. Em
adição, convém recordar que as jazidas de petróleo têm uma distribuição
bastante aleatória no mundo.
Jazidas,
ou reservatórios, de petróleo em profundidade superior a dez mil metros são
inacessíveis porque a dez mil metros o peso próprio da coluna de hastes
metálicas das sondas de perfuração atinge um valor tal que rompe o próprio
metal. Portanto, no nível de conhecimento atual, ainda que fosse localizada
reserva de petróleo a dez mil metros ou mais de profundidade, esse petróleo
seria inacessível aos materiais conhecidos usados na construção de sondas de
perfuração. O grau geotérmico agrava esse problema, pois a dez mil metros as
temperaturas são superiores a 300º C.
Consumo
mundial de petróleo e duração das reservas
Segundo
a revista EXAME, n. 13, edição 922, de 16/07/2008, o consumo mundial de
petróleo passou de 79,2 milhões de
barris diários, em 2003, para 85,2
milhões de barris diários em 2008. Resultou assim, um aumento de 10,76%
em seis anos. Com a ampliação acelerada das necessidades de petróleo da China e
da Índia, e com o desenvolvimento dos países em geral, espera-se um aumento
ainda mais acentuado da demanda de petróleo nos próximos anos. Como o petróleo
é um bem finito, a velocidade de esgotamento em breve ultrapassará a velocidade
com que novas reservas possam ser descobertas. Como o preço da extração tende a
aumentar, junto com a pressão da demanda em crescimento, é certo que o preço do
petróleo para o consumidor venha a se elevar de modo substancial no futuro.
Essas
considerações sugerem uma reflexão sobre algumas questões, entre as quais:
a. Como
será possível reduzir a taxa de crescimento da demanda por petróleo no mundo e
que substitutos para o petróleo podem ser esperados no futuro?
b.
Em que finalidades, ou usos, o consumo de
petróleo poderá ser reduzido?
c.
Existem
tecnologias disponíveis para a substituição do petróleo?
d.
Que
tipos de combustível poderão substituir o petróleo no futuro?
e.
Que
poderemos esperar da atuação dos governos nesses assuntos?
f.
O
que está sendo feito para reduzir o consumo de petróleo e substituí-lo por
outras fontes de energia?
Foi
visto que o consumo mundial de petróleo em 2008 atingirá cerca de 31,1 bilhões de barris. Ou seja, 4.945
bilhões de litros ou praticamente 5
bilhões de metros cúbicos.
O
consumo de petróleo no Brasil atinge cerca de 2 milhões de barris/dia, ou seja
630 milhões de barris/ano (= 318 milhões de litros/dia = 116,070 milhões de
metros cúbicos/ano), isto é, dois por cento do consumo mundial. O Brasil, com
uma reserva de petróleo de 14 bilhões
de barris no primeiro semestre de 2008 terá petróleo suficiente para atender as necessidades do país
por 20 anos, ao nível atual de consumo. Considerando o consumo atual de
petróleo no mundo, se a reserva brasileira de petróleo fosse atender as
necessidades atuais do mundo todo, as reservas brasileiras durariam menos de
seis meses.
Petróleo - consumo (barris/dia)
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Definição de Petróleo -
consumo: Este número é o total de petróleo consumido
em barris por dia. A discrepância entre a quantidade de petróleo produzido e
/ ou importados e a quantidade consumida e / ou exportada devido à omissão de
mudanças de valores, ganhos de refinaria, e outros fatores complicadores.
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Perspectivas
de aumento das reservas brasileiras de petróleo
Na
década de 1970, os trabalhos de geologia e de geofísica feitos pela Petrobrás,
fruto de investimentos contínuos, desde 1956, em formação e treinamento de
geólogos, geofísicos e engenheiros de perfuração e produção de petróleo
localizaram, na plataforma oceânica ao largo dos municípios de Macaé e Campos,
estado do Rio de Janeiro, a primeira grande reserva de petróleo no Brasil. Esse
petróleo encontra-se sob lâmina d’água que varia de 400 a 1.500 metros após o
que se tem mais dois mil a três mil metros de profundidade na rocha até atingir
a rocha reservatório de petróleo. Esse reservatório encontra-se por baixo de
uma camada de sal, que chamamos de ‘pré-sal’.
Nessa
ocasião o centro de pesquisa tecnológica da Petrobrás – CENPES na ilha do
Fundão, RJ, em parceria com a COPPE da UFRJ, desenvolveu equipamentos que
facilitaram e viabilizaram a perfuração e extração de petróleo nas condições em
que se encontram esses reservatórios de petróleo da bacia de Macaé - Campos.
Desde
então, o trabalho de pesquisa dos geólogos e geofísicos da Petrobras prosseguiu
e passou a procurar determinar a extensão dessa formação que encerra petróleo
abaixo do pré-sal. Foi um trabalho sistemático e contínuo durante cerca de
trinta anos que permitiu afirmar que essa formação se estende sem interrupção
desde o litoral do estado do Paraná até o litoral do estado do Espírito Santo.
Essa formação pode estar a mais de 200 km da costa e o pré-sal pode estar em
profundidades superiores a 7.000 metros, como acontece em Santos, SP. A camada
de sal que precede os campos de petróleo tem cerca de 200 metros de espessura
em Macaé - Campos, mas passa para 2.000m (dois mil metros) em Santos, o que
exigirá desenvolvimentos tecnológicos para rompê-lo com baixo custo e atingir o
reservatório de petróleo que se encontra sob ela. A descoberta de petróleo em
Santos resultou de trabalho continuado dos técnicos da Petrobras durante cinquenta
anos. Nada a ver com loteria. Hoje se procura determinar a presença de
formações semelhantes de pré-sal em outras partes do Brasil, como no litoral da
Bahia, ainda que essas formações sejam descontínuas, isto é, sem ligação física
com a formação que se estende do Paraná ao Espírito Santo.
Reservas de
petróleo que podem ser esperadas no pré-sal
Os
trabalhos que permitem o cálculo da reserva de petróleo que está no pré-sal, ao
longo de seus mais de mil quilômetros do Paraná ao Espírito Santo, dependerão
de novas perfurações. Os dados geológicos e geofísicos permitem supor que
poderão atingir valores bem elevados, capazes de colocar o Brasil entre os
países com as maiores reservas de petróleo do mundo. Considerando, porém, o
caráter finito das reservas de petróleo, considerando ainda os esforços que
estão sendo feitos no mundo todo para reduzir o nível consumo de petróleo,
poderia ser desejável programar a extração de petróleo do pré-sal para atender
as necessidades do país (abastecimento próprio e incremento do comércio
exterior) e atração de capitais para investimentos novos, seja na área do
petróleo como em indústrias relacionadas com alta tecnologia.
Algumas
conclusões para reflexão
Se a
reserva de 14 bilhões de barris destinarem-se somente ao abastecimento do
mercado brasileiro, ela levaria cerca de trinta (30) anos para se esgotar, no
nível de consumo atual de petróleo+etanol do país.
Como
a velocidade de novas descobertas de grandes campos de petróleo, para compensar
o consumo, está cada vez mais baixa, e como a demanda vem aumentando, o
abastecimento tende à escassez. Assim, há necessariamente um prazo limite para
a duração das reservas de petróleo em escala mundial, em condições de extração
econômica, admitido o preço de mercado na faixa US$100 a US$200 por barril.
Desse modo, conclui-se pela necessidade de intensificar as pesquisas de novas
fontes de energia inclusive pesquisas para reduzir o custo de produção das
energias alternativas já em uso corrente.
A
participação de outras fontes conhecidas de energia (hidrogênio, eletricidade
fotovoltaica, biocombustíveis) representa ainda um porcentual muito diminuto
das necessidades mundiais, mas mostra uma tendência de crescimento.
E o
meio ambiente também agradece - A substituição progressiva de petróleo por
fontes alternativas de energia, como hidrogênio, eletricidade fotovoltaica,
biocombustíveis, representará um considerável ganho ambiental, com redução dos
gases que agravam o efeito estufa e que são produzidos pela queima (uso) de
combustível fóssil como o petróleo e o carvão mineral.
FONTE: Sylvio de Queirós
Mattoso. DSc,
Engenheiro de minas e metalurgista, USP.
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