segunda-feira, 24 de março de 2014


NATUREZA, CIÊNCIA, TÉCNICA E TERRITÓRIO
A ciência e o capital desenvolvem meios técnicos para se sobreporem ao tempo da natureza na busca do maior lucro possível, criando o ritmo da reprodução do capital.
Cultivos de plantas transgênicas, criação de animais em sistema de confinamento, incremento de ração para animais com anabolizantes, são alguns exemplos.
Para Milton Santos, no capitalismo, a organização do espaço se dá na maneira como se aparelha o território para impor o tempo do lucro (da reprodução do capital) sobre o ritmo da natureza.
PROGRESSO?
A noção de progresso norteou, nos últimos 200 anos, a ação transformadora do homem e justificou práticas imperialistas, industrialização a qualquer preço, ideias de superioridade do homem branco e da cultura ocidental, e, por consequência, a dominação sobre outros povos.
Considera a natureza como fonte inesgotável de recursos, a qual pode ser transformada e utilizada pelo homem na medida em que este desenvolve conhecimentos e técnicas.
A sociedade industrial altera os ambientes naturais e constrói/reconstrói paisagens a partir de uma visão utilitarista.
Como afirma Milton Santos, a natureza passa a ser um grande conjunto de objetos dos quais o homem escolhe alguns que aprende a utilizar.
Essa ideia vê a natureza de forma fragmentada e considera os objetos naturais isoladamente.
A ideia de progresso associada à expansão industrial prevaleceu como critério para se definir desenvolvimento. Assim, país industrializado passou a ser sinônimo de desenvolvido, ocultando o uso indiscriminado e predatório da natureza.
Na escala local e regional, um exemplo, é o Mar de Aral, na Ásia Central que teve seu volume de água reduzido, pois as águas dos rios que o abastecem foram intensamente utilizadas na irrigação.
A expansão da atividade industrial no mundo foi acompanhada de inúmeros acidentes de grande impacto social e ambiental. Esses são grandes problemas, pois se referem a uma dinâmica global e seus efeitos são sentidos em diversas escalas geográficas.
Atualmente, são 25 as áreas do mundo que apresentam alto grau de ameaça de destruição, e todas, em diversos tipos de ambientes, têm grande biodiversidade. Essas áreas de grande biodiversidade e ameaçadas são chamadas de hotspots.

As áreas de alto risco correspondem a 1,4% da superfície terrestre, porém representam o habitat de mais de 60% das plantas e animais conhecidos no planeta.
A atual organização do espaço mundial pode ser entendida como uma distribuição desigual de tecnologia e de riquezas entre os países.
Com a industrialização ocorrida nos últimos 200 anos, a maior parte dos ambientes naturais dos países do Norte foi alterada e seus recursos intensamente explorados. Por outro lado, os países do Sul contêm em seus territórios grandes recursos, entre os quais a biodiversidade presente nos ambientes tropicais que constituem reservas de riquezas muito cobiçadas pelas indústrias extrativas vegetais, farmacêuticas, entre outras.
OUTRA IDEIA DE NATUREZA: TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADE
Atualmente, o espaço geográfico é marcado pela diversidade de modos de vida que expressam diversas formas de conceber e se relacionar com a natureza.
Para a maior parte das culturas indígenas que habitam a Amazônia a posse da terra é coletiva e o uso da natureza não é predatório, pois a concebem como parte da sua sociedade.
Dessa forma, todos os seus elementos estão integrados a um universo simbólico em que predomina uma concepção unificada. 
Na vida real, atribuímos muitos sentidos e sentimentos aos lugares onde vivemos. Isso ocorre com nosso quarto, casa, rua e bairro.
O conceito de territorialidade se define pelo vínculo de afetividade, pelo sentimento de identidade, percebido por quem a vivencia, organiza e experimenta.
As inúmeras comunidades indígenas que viveram e vivem no Brasil preservam o meio ao estabelecerem vínculos com tudo que os cerca. Os elementos presentes no meio constituem patrimônio da sua identidade, produzindo e reproduzindo sua cultura. Essa territorialidade expressa pelas comunidades indígenas é difícil de ser compreendida.
 Isso significa dizer que a mudança de casa, de apartamento, não é apenas uma simples transferência de um local para outro, pois não nos damos conta de todas as mudanças de relações, de vínculos, de lembranças, provocadas por essa alteração.
Na sociedade urbana capitalista, mantemos uma relação alienada com os inúmeros objetos, os locais e as pessoas.
O conceito de territorialidade representa identidade, reconhecimento, pertencimento ao lugar, a interação mediada por vínculos objetivos e subjetivos com o território, entre o homem, a sociedade e o meio.
No espaço urbano, um exemplo são os grafiteiros que marcam sua territorialidade com seus próprios códigos de identidade: linguagens, vestimentas, músicas e seus próprios instrumentos de arte.
Se ao longo do processo de expansão das fronteiras do capital, a tentativa de eliminar a existência de diferentes modos de vida alienou sujeitos e as relações que eles estabelecem entre os próprios seres humanos e com seus lugares, como podemos produzir territorialidades?
Por que comunidades tradicionais, como os castanheiros, quilombolas, quebradeiras de coco, lutam para manter sua territorialidade?

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