domingo, 17 de junho de 2012

A FUNÇÃO RELIGIOSA DAS CIDADES

O texto “A função religiosa das cidades” nos ajuda a refletir sobre a organização espacial interna das cidades religiosas e também dos peregrinos como agentes modeladores desse espaço, destacando-a não só como local da divisão territorial do trabalho.

A função religiosa das cidades

A complexidade funcional das cidades do mundo moderno tem na grande divisão territorial do trabalho a sua maior expressão. Há, de um lado, cidades centrais, de distribuição de produtos industrializados e prestação de serviços, cidades hierarquizadas entre si e, de outro, cidades especializadas, como as cidades portuárias, cidades administrativas, cidades de recreação, cidades universitárias e cidades religiosas, entre outras. Nas primeiras, as atividades básicas são múltiplas, enquanto, nas segundas, são específicas, possuindo um padrão de localização próprio.
Entre as cidades especializadas, as cidades religiosas, chamadas de hierópolis ou cidades-santuário, possuem uma ordem espiritual predominante, sendo marcadas pela prática religiosa da peregrinação ou romaria ao lugar sagrado.
Assim, as cidades-santuário são centros de convergência de peregrinos que, com suas práticas e crenças, materializam uma peculiar organização funcional e social do espaço. Esse arranjo singular e repetitivo pode ser de natureza permanente ou apresentar uma periodicidade marcada por tempos de festividades, próprios de cada centro de peregrinação. [...] As hierópolis podem ser encontradas em pleno deserto, como no caso de Meca; no sopé dos Pirineus, como em Lourdes; em área baixa e sujeita às enchentes, como em Porto das Caixas, na Baixada Fluminense.
[...] Ao analisar as atividades das cidades de função religiosa, é preciso considerar dois aspectos: a sua organização espacial interna e o papel do agente modelador, no caso os peregrinos, através da vivência do espaço sagrado.
[...] As hierópolis que atraem um fluxo permanente de peregrinos são aquelas para as quais fluem milhares de fiéis ao santuário durante todo o ano e não somente por ocasião das festas. As outras, cidades-santuário de fluxo periódico, são aquelas em que a prática religiosa implica a ida em certas ocasiões, geralmente uma ou duas vezes por ano, coincidindo com os dias de festividades.
É preciso então prever, ao redor do santuário, alojamento e estacionamento para os veículos. Essas acomodações às vezes são construídas pelos fiéis e têm a duração da festa. É ao redor do santuário desses núcleos que é organizada a vida urbana no tempo de festa ou tempo sagrado.
[...] Na organização espacial das cidades-santuário encontra-se, frequentemente, um comércio anexo ao lugar de atividade religiosa, aquele de objetos da devoção do peregrino. Encontram-se também restaurantes, farmácias e comércio de artigos não religiosos. A presença dessas atividades qualifica o espaço profano das cidades-santuário. A cada fluxo concentrado de peregrinos, seja semanal, mensal ou anual, a vida urbana é recriada nas cidades-santuário.
ROSENDAHL, Zeny. Hierópolis: o sagrado e o urbano. Rio de Janeiro: UERJ, 1999, p. 24–26. (Adaptação).

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