domingo, 17 de junho de 2012

A INDÚSTRIA DA SECA


A indústria da seca
Por que se fala na existência de uma “indústria da seca" no Nordeste?
Porque a seca representa vantagens para um conjunto de pessoas.
Nos períodos de seca prolongada, o governo federal socorre os estados nordestinos atingidos basicamente por meio de: envio de grande soma de dinheiro para ser aplicada nessas áreas; envio de cestas de alimentos para serem distribuídas à população; perdão total ou parcial das dívidas ou adiamento dos prazos de vencimento de empréstimos tomados por empresários e fazendeiros nos bancos oficiais. Como muitos desses empresários e fazendeiros são políticos, lucram com essas práticas, o que explica o desinteresse em resolver a situação.
O dinheiro liberado pelo governo federal destina-se principalmente ao pagamento da mão-de-obra das frentes de trabalho formadas nos períodos de seca prolongada. Esse trabalho nas frentes é temporário e consistem na abertura de estradas, na construção de açudes, barragens etc. Fazem parte das frentes de trabalho os trabalhadores rurais (homens, mulheres e até crianças) que tiveram suas plantações e criações destruídas pela seca e também as pessoas desempregadas ou sem terra para trabalhar.
Nas frentes de trabalho, o pagamento muitas vezes é inferior ao salário mínimo, contrariando as leis do país, segundo as quais nenhum trabalhador poderia receber menos que o salário mínimo.
Nas secas prolongadas, as grandes vítimas são os trabalhadores rurais empregados dos fazendeiros ou "coronéis" do Sertão. São eles que têm suas plantações (ou roçados) e suas poucas cabeças de gado destruídas pela falta de água.
Os grandes proprietários rurais possuem açudes em suas terras, muitas vezes construídos com verbas federais pelas frentes de trabalho. Eles somente sofrerão as consequências se a seca for prolongada a ponto de a evaporação da água secar o açude.
As frentes de trabalho atuam geralmente nas terras dos grandes proprietários rurais, construindo açudes e estradas. Assim, nos períodos de seca, a criação de gado e a agricultura realizada nas grandes propriedades não são afetadas. São os pequenos proprietários que sofrem com as secas.  Nas grandes propriedades, o açude construído pela frente de trabalho servirá para a “próxima seca e as estradas valorizam a propriedade, além de facilitar o transporte do algodão, de gado e de pessoas”.
As cestas de alimentos, enviadas pelo governo federal, são distribuídas à população pelos políticos locais (prefeitos, deputados e vereadores). Geralmente os prefeitos e deputados são os próprios "coronéis", ou seja, os grandes proprietários rurais. Quando não, são seus parentes e amigos. Ao distribuir as cestas de alimentos (doadas pelo governo federal) ou prestar outros "favores", esses políticos locais surgem aos olhos da população, mal-informada, como benfeitores, como verdadeiros "pais" ou "padrinhos" dos pobres, miseráveis e deserdados. Com isso, esses "benfeitores" ganham votos, assegurando suas reeleições ou as de seus parentes e amigos.
É por tudo isso que se fala na existência de uma "indústria da seca", ou seja, a seca produz benefícios, bons negócios ou vantagens para algumas pessoas. Mas, para a maioria da população nordestina, a seca representa o agravamento do desespero, da fome e até mesmo a morte.
Cabe então perguntar: Como é possível um ser humano ter a coragem de beneficiar-se da desgraça e da dor de outro ser humano?

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